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Movimento dos Malokas 

A cultura de Pernambuco é um das mais ricas e diversificadas do Brasil. O Estado é conhecido pela cena cultural viva construída a partir da contribuição de índios, portugueses, holandeses, judeus, africanos, entre outros povos e é considerado um grande celeiro de poetas, artistas plásticos e músicos reconhecidos em todo mundo.

Além do frevo, um dos principais gêneros musicais e de dança do Carnaval de Recife e Olinda, eleito em 2012 Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, existem ainda o movimento manguebeat, gênero musical que revelou e influenciou diversos grupos musicais e artistas do Estado, como Chico Science e Nação Zumbi, e, também, o brega que se tornou em agosto de 2017 Patrimônio Cultural de Pernambuco. O ritmo ficou marcado nas vozes de grandes artistas locais como Reginaldo Rossi, Kelvis Duran, Conde Só Brega, entre outros cantores que se consagraram no gênero que com o tempo foi ganhando adaptações entre elas o brega-funk, como mencionado no texto inicial do site.

A partir desse novo fenômeno disseminado massivamente nas periferias, surgiu recentemente o Passinho dos Malokas do Recife, dança que logo se espalhou e foi bem recebida nas comunidades que rapidamente formaram grupos da dança. Porém, um questionamento surgiu e a equipe do site ‘Na Cola do Passinho’ quer saber: O passinho é um movimento cultural? 

Para responder essa pergunta entrevistamos o pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, Gustavo Albuquerque, que já adiantou que, historicamente, as culturas periféricas sempre foram alvo de preconceito no País e precisam até hoje se afirmarem constantemente como uma forma de exercerem a sua cidadania. “A cidadania não se esgota na dimensão oficial do Estado com o direito ao voto, aos espaços e serviços públicos, por exemplo. A cidadania tem a ver com a cultural que mantém um povo presente e notável”, afirmou.  Ainda segundo ele, o passinho e o brega-funk são movimento culturais potentes ligadas a comunidades que sofrem violência cotidianamente. “Fazer visível uma classe social que é o tempo todo silenciada é um ato político, mesmo que não pareça, mesmo que as pessoas achem que a música e a dança sejam fúteis e vazias”, explicou.

O pesquisador contou ainda que mesmo validando o movimento, não acredita que o Passinho dos Malokas do Recife vire algum dia patrimônio cultural reconhecido pelas instituições. “Se demorou tanto para que o brega fosse reconhecido como cultura, com o Passinho o processo deve ser ainda mais difícil. Outra questão é ‘de que adianta ser reconhecido como patrimônio cultural se o Estado não desenvolve políticas de incentivo?’”. Gustavo alertou também sobre a necessidade por parte dos órgãos competentes de se pensar na condição emocional e psíquica das pessoas que fazem parte desses movimentos. “Assim como jogadores de futebol, muitos Mc’s se frustram com o fracasso e acabam ficando pelo caminho, e isso tem um efeito psicológico muito grande. O problema é que a saúde mental nas periferias é pouco debatida e o pobre não tem tempo para ir ao psicólogo”.

Através da dança, os dançarinos mostram a realidade em que vivem e acabam influenciando outras pessoas que se identificam e gostam das diversas formas de expressão do movimento.  “Graças a Deus, muitas crianças estão indo para a escola por que começaram a dançar o Passinho. A gente diz para essas crianças que elas só vão aprender a dança se elas frequentarem as aulas, e as próprias mães dizem que os filhos não param de assistir os nossos vídeos e que eles estão indo para as aulas. Dessa forma estamos conseguindo tirar muitas pessoas das drogas”, contou o dançarino de Passinho Marcio de França.

Mesmo não reconhecido pelo Estado, o Passinho esteve presente fortemente nas ruas durante o carnaval deste ano. Isso é uma prova de que o movimento é uma cultura viva que rompe barreiras institucionais, causa identificação e traz alegria ao povo.

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