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Dançarinas ultrapassam preconceitos e barreiras por viverem do Passinho

“As pessoas chegam para mim e dizem que eu não preciso disso, que é feio, mas não entendem que é um trabalho também.  A sociedade ainda é muito preconceituosa”, explica Victória Marley, integrante do grupo As Prin de Peixinhos.  Liderado majoritariamente por homens, o Passinho ainda é um tabu quando envolve mulheres.

Ritmo tradicional das comunidades brasileiras, o Passinho envolve e interfere na vida de muitas pessoas. O que era pra ser só diversão, é na verdade um movimento cultural que vem quebrando paradigmas e abrindo espaço para o debate no que diz respeito ao sexismo. Embora as coisas venham evoluindo, o reflexo de uma sociedade machista é ainda é visto nos dias de hoje. Derivado do funk, o Passinho vem disseminando, a largos passos a liberdade de garotas que se dedicam ao ritmo.

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O grupo Azz Metralhas se desloca de Lagoa do Carmo, acompanhada da família para se apresentar no Recife. Foto: Na Cola do Passinho

Nomes como Valesca Popozuda, no início dos anos 2000 e Tati Quebra Barraco, por exemplo, abriram espaço no mundo do funk para que artistas pudessem cantar e dançar sobre o que quisessem. Atualmente, Anitta, Ludmilla, Mc Pocahontas, Mc Carol e Rebecca, são algumas das funkeiras que  falam abertamente sobre liberdade, prazer, independência e força feminina em suas letras e lutam por reconhecimento dentro desse cenário.
 

A objetificação da mulher e a repressão ainda é algo muito presente. Mulheres que saem dos da sociedade, incomodam, quando imposições de gêneros são quebradas no meio artístico, a reação do público costuma ser de surpresa e até negativa. É o que explica a professora e historiadora Susane Oliveira, que atua na Universidade de Brasília (UnB) e desenvolve pesquisas sobre feminismo. “Elas podem sofrer agressões de todo tipo e serem ainda vistas de modo estigmatizado como promíscuas, vagabundas, imorais ou pecadoras", afirmou em entrevista ao Diário de Pernambuco.

Apesar das críticas negativas, as funkeiras resistem, a relação de Victória Marley com a dança começou ainda pequena, ela conta que sempre gostou da sensação que tinha ao dançar. Começou na swigueira e hoje formou um grupo de Passinho, dentro da sua comunidade. “Eu sempre gostei de dançar, mas o povo ficava falando, aí nunca levei para frente, até descobrir que tinha um grupo masculino de Passinho aqui em Peixinhos e isso me encorajou a criar o meu”, afirma a dançarina.

Importantes figuras no cenário do Passinho recifense, As Prin do Passinho, unem-se às ‘As do Passinho S.A’, ‘Nós é do Coque’, Azz Metralhas do Passinho e diversos outros grupos que vem se formando e mudando o cenário da dança no Recife. Munidas de empoderamento pessoal, as dançarinas se fortalecem e defendem o seu espaço, “as pessoas falam das letras das músicas, mas não olham para o nosso trabalho, para como a gente está crescendo. Hoje, eu não ligo para isso, no começo foi difícil, mas agora eu me sustento, não preciso da ajuda de ninguém, tenho até patrocinador de roupa, beleza, enquanto isso o povo só reclama e aumenta o preconceito”, explica Victória.

 

Em um espaço onde são normalmente pré-julgadas, discutir sobre o papel feminino é de extrema importância, reconhecer o Passinho como uma esfera democrática é o que incentiva garotas a continuarem dançando e mostrando seu trabalho. O dançarino Soldado, integrante do grupo Maloka de Peixinhos defende o fim desse preconceito: "o Passinho é uma dança unissex, a sociedade que é muito preconceituosa, as meninas dançam do jeito dela e a gente do nosso, quando junta todo mundo é só alegria". 

Assim como em uma competição, os grupos femininos de Passinho jogam contra o preconceito e caminham cercadas de uma rede de apoio muito forte. A dançarina Iris Farias, do grupo Azz Metralha do Passinho conta como faz para enfrentar as dificuldades, “eu vim de Lagoa do Carmo para dançar no Marco Zero e tenho o total apoio da minha mãe, isso me incentiva a continuar dançando”. A mãe de Íris, Paula Farias, reconhece a importância desse apoio: “eu não tenho que julgá-la, criamos nossos filhos para o mundo e ela ter feito essa escolha e lutar contra o preconceito me deixa feliz”, afirma.

No vídeo a seguir, você pode conferir o depoimento de Victoria Marley, integrante do grupo As Prin de Peixinhos, Olinda.

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